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Braquetes Customizados

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O conceito da Odontologia 4.0 está relacionado ao uso de tecnologias que incorporam recursos digitais ou digitalmente controlados para a execução de procedimentos que se opõem ao uso de dispositivos meramente mecânicos ou elétricos.
A Odontologia Digital surgiu pela necessidade de suprir a pressão causada pelo aumento da demanda dos pacientes na busca por tratamentos mais rápidos e seguros, acompanhados de uma experiência confortável. A comodidade da boa situação fi nanceira entre os anos 1970 e 1990 deixou a maior parte dos odontólogos na chamada zona de conforto. Isso porque, nesse passado recente, a oferta de profi ssionais era escassa e a procura por tratamento odontológico era abundante, fazendo com que os cirurgiões-dentistas descuidassem de detalhes importantes. Por exemplo, o conforto do paciente era relegado ao último plano. A péssima experiência que a maior parte dos pacientes vivenciava durante as consultas trouxe aos profi ssionais o rótulo de “causadores de sofrimento” – e não de profi ssionais da área da Saúde, que oferecem cura a determinadas doenças, diretamente ou não relacionadas à cavidade oral.

Ao longo do processo evolutivo, inerente à oferta de serviços e produtos aos consumidores dos séculos 20 e 21, precisamente quatro fatos foram marcantes:
1 – A utilização racional da máquina a vapor e o desenvolvimento das linhas de produção;
2 – A energia elétrica como recurso energético de primeira escolha;
3 – A concepção da internet como ferramenta viável de comunicação;
4 – A utilização das tecnologias de manufaturas e serviços suportadas por sistemas de máquinas com capacidade de autoaprendizado.

Como ortodontista, posso afi rmar com absoluta tranquilidade que a Ortodontia tem vivenciado importantes saltos que definitivamente alteraram seu rumo. Isto ocorreu quando Lawrence Andrews propôs a incorporação de detalhamentos de posicionamento dos dentes aos acessórios ortodônticos no início dos anos 1970, e também quando Ronald Roth sugeriu alterações na prescrição, com o objetivo de estabelecer uma conexão com a oclusão funcional e com os fundamentos da bioestética propostos por Robert Lee. Entretanto, o maior dos “jumps” de toda a história da nossa especialidade está ocorrendo neste exato momento. O fenômeno, que acontece de forma global, tem introduzido o cirurgião-dentista de maneira inevitável e irreversível ao mundo digital.
A inteligência artifi cial (apoiada em algoritmos que podem ser revertidos em tomadas de decisões suportadas por banco de dados) pode ser considerada como a grande aliada dos odontólogos. Sistemas de planejamento virtual podem sugerir caminhos mais retos e rápidos para alcançar resultados fi nais consistentes – mais ou menos como se tivéssemos um Waze odontológico. Entretanto, devemos ponderar sobre alguns fatos. O mais intrigante deles: de onde vêm os dados que compõem as bases big data para o autoaprendizado e sugestão de resultados propostos pelos sistemas disponíveis no mercado? De clínicos bem treinados ou de técnicos da área computacional? Fazendo um paralelo com o Waze: caso os dados não sejam consistentes, o motorista pode ser induzido a conduzir seu automóvel por locais inseguros, abrindo oportunidade para toda a sorte de perigos, como assaltos, acidentes etc.

Os próximos passos da Odontologia Digital O objetivo da Odontologia Digital é arrebanhar um quadro de experts em informática odontológica que se baseiem em princípios sólidos de pesquisa, disseminando efetivamente as melhores práticas nas especialidades, além de desenvolver objetivos estratégicos para a implementação racional das tecnologias.
Os conceitos de projetos e manufaturas auxiliados por computadores (CAD/CAM) não são novidades, tendo sido inventados em 1957 e ocupado lugar de destaque na indústria desde 1973. Enquanto hoje em dia não resta a menor dúvida de que os sistemas CAD/ CAM revolucionaram a profi ssão, inicialmente estes recursos eram vistos como novidades curiosas, porém pouco aplicáveis na prática clínica, pois eram lentos e dispendiosos em termos fi nanceiros. Entretanto, recentemente houve avanços no desenvolvimento de três outras tecnologias inerentes à Odontologia 4.0: impressão 3D, realidade virtual (RD) e realidade aumentada (RA).
A impressão 3D tem sido considerada uma tecnologia intrigante e surpreendentemente barata, encontrando lugar de destaque na Odontologia e sendo aplicada de diversas formas, que vão desde a produção de guias para preparos cavitários, inserção de implantes e procedimentos cirúrgicos. A aplicação talvez mais óbvia seria a impressão de modelos para especialidades como Prótese Dentária, Ortodontia e Cirurgia. A fabricação in office de copings, mock ups, próteses provisórias e mesmo bases para implantes tem sido utilizada de forma cada vez mais abrangente. Em outras palavras, a impressão 3D está sendo aplicada em uma vasta variedade de procedimentos, uma vez que a captura de imagens pode ser feita com rapidez e precisão a partir de scanners intraorais.
Aplicações inovadoras da impressão 3D estão por vir, visto que as necessidades clínicas estimulam um maior número de usuários das tecnologias de captura de imagens por scanners, cada vez mais acessíveis aos dentistas.

A Ortodontia como business global Ao longo do século 20, a economia e a tecnologia seguiram uma lógica dominante: o maior signifi ca o melhor. Ao redor do globo, o objetivo tem sido construir grandes empresas, redes de hospitais, cadeias de lojas e restaurantes, marcas com renome mundial e, principalmente, enormes conglomerados de mídia. Desta forma, as empresas dominantes creem na premissa de tirar vantagens da economia clássica do século 20: a produção em larga escala.
Neste século 21, entretanto, a economia guiada pela tecnologia está caminhando em sentido totalmente oposto: a produção customizada em pequena escala. A inteligência artifi cial é o combustível propelente que está levando tecnologias atuais a surfar ondas antes inimagináveis, permitindo que empresas inovadoras possam competir com tradicionais gigantes da economia típica do século anterior.
Estamos neste momento passando por algo histórico, o que não tem ocorrido desde por volta de 1900, quando uma onda de novas tecnologias mudou o comportamento e as relações de trabalho de forma perene, com o desenvolvimento de automóveis, eletricidade e telecomunicações.
Na nova economia composta pela tríade inteligência artifi cial + impressão 3D + robótica, a inteligência artifi cial é o piloto que está nos levando a uma viagem sem retorno. Empresas pequenas estão se tornando grandes pelo simples fato de não necessitarem de investimentos vultuosos para um efi ciente start-up. Hoje, pode-se facilmente “alugar” todas as etapas inerentes à produção em larga escala, sem que seja necessário se descapitalizar de milhões de dólares, assumindo riscos enormes. Empresas gigantescas caminham como paquidermes sonolentos, enquanto aquelas que utilizam apropriadamente a nova ordem calcada na inteligência artifi cial se movem rapidamente, preocupando as companhias mais tradicionais.
No que diz respeito à teleodontologia, há pelo menos uma década autores publicam trabalhos e discutem a possibilidade de atendimento não presencial de pacientes, com o intuito de prover monitoramento de tratamentos em curso. A imagem é o principal suporte da teleodontologia, além disso, qualidade, conectividade e um método simples de captura são fatores fundamentais no sucesso deste tipo de serviço. Em termos de qualidade de imagem, a câmera fotográfi ca digital é tida como a melhor opção, mas seu uso é menos conveniente pela falta de facilidade de manipulação e ajustes. A câmera de um aparelho celular pode fornecer imagens satisfatórias na confi guração adequada (foco, movimento e áreas de imagem). Assim, em emergências dentárias, a câmera de um telefone celular pode ser um instrumento útil. Diretrizes apropriadas para aquisição de imagens devem ser estabelecidas para a teleodontologia, por exemplo em situações de traumas dentoalveolares.

Países como o Japão, que integram a lista das nações mais desenvolvidas do mundo, criaram sistemas que conseguem entregar um estado altamente satisfatório de saúde oral à população de forma efi ciente e abrangente. Entretanto, atualmente buscam oferecer em seus sistemas públicos de saúde a possibilidade de monitoramento remoto a partir dos pais ou dos próprios pacientes, estabelecendo protocolos que julguem imagens capazes de detectar sinais que vão desde o acúmulo de placa bacteriana até a presença de cáries nas superfícies oclusais de primeiros molares. O objetivo principal é a contribuição futura para a promoção da saúde oral para pessoas em qualquer região do mundo.
A tecnologia por si só nunca resolve problemas, mas sim o design de ferramentas digitais de alta tecnologia criadas de maneira bem intencionada. Profi ssionais da Odontologia devem estar vigilantes ao imaginar de que maneira os novos tipos de mídia, dados, processamento e comunicação podem ser usados para aprimorar a experiência dos pacientes que buscam tratamento odontológico.

A Odontologia compreende décadas de experiência com tecnologia, tanto na área da formação e educação de profi ssionais quanto no que diz respeito ao tratamento de pacientes. Esta experiência é consistente o sufi ciente para nos mostrar que, a menos que seja adotada uma abordagem abrangente, a principal injustiça da desigualdade não mudará. Cabe a nós enxergarmos as tecnologias como ferramentas capazes de alavancar grandes mudanças, se forem utilizadas com sabedoria nos lugares certos e nos caminhos certos.