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Bruxismo em crianças

Bruxismo em crianças

Bruxismo é um termo “guarda-chuva” que reúne diferentes condições motoras dos músculos da mastigação, incluindo ranger dos dentes, apertamento dos dentes e contração ou protrusão da mandíbula.

Muito se ouve hoje sobre o bruxismo do sono e o bruxismo em vigília. De acordo com uma reunião de consenso internacional realizada em 2017*, o bruxismo do sono é uma atividade dos músculos da mastigação durante o sono, caracterizada como rítmica (fásica) ou não rítmica (tônica), ou seja, tanto o apertamento quanto o ranger dos dentes são considerados bruxismo. Já o bruxismo em vigília é definido como atividade dos músculos da mastigação durante a vigília, caracterizada pelo contato repetitivo ou sustentado dos dentes e/ou pela retração ou protrusão da mandíbula.

O bruxismo em crianças, assim como em adultos, tem uma etiologia complexa e multifatorial. Diversos fatores podem contribuir para o desenvolvimento dessa condição em pacientes jovens. Entre as possíveis causas, destacam-se os fatores psicológicos. Estresse e ansiedade são considerados fatores de risco significativos para o bruxismo infantil. Além disso, estudos recentes têm levantado a possibilidade de uma base genética para o bruxismo. Certos genes foram associados a uma maior predisposição ao bruxismo em crianças, o que sugere que a hereditariedade desempenha um papel importante. Uma revisão sistemática recente* trouxe à tona algumas questões a serem analisadas por pais/responsáveis e profissionais de saúde:
• Maior incidência de bruxismo parece ocorrer em crianças de famílias com melhores condições socioeconômicas e culturais. Isso pode estar relacionado à quantidade de atividades e obrigações dessas crianças em relação a crianças de famílias com piores condições socioeconômicas;
• Estudos realizados com polissonografia têm evidenciado aumento do bruxismo em crianças;
• Perturbações no sono, como luzes e sons, além da diminuição do tempo de sono, têm sido associados ao bruxismo;
• Há uma correlação entre parafunções (roer unha, morder objetos, lábios, uso prolongado de chupeta/dedo, entre outras) com a incidência de bruxismo do sono;
• Da mesma maneira, o uso de alinhadores e aparelhos removíveis também parecem estar relacionados a hábitos em vigília associados a atividades musculares (bruxismo em vigília) e bruxismo do sono.

Alguns medicamentos têm sido associados ao aumento do risco de bruxismo em crianças. Um exemplo notável é a classe de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos, especificamente os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS). Como profissionais de saúde que lidam com pacientes pediátricos, é fundamental estar ciente dessa possível associação entre medicamentos e bruxismo. No entanto, é importante lembrar que a relação entre medicamentos e bruxismo pode variar de pessoa para pessoa, e nem todas as crianças que tomam esses medicamentos desenvolverão bruxismo.

A abordagem clínica para o diagnóstico e tratamento do bruxismo em crianças deve ser cuidadosa e individualizada. O diagnóstico preciso requer uma avaliação clínica completa, incluindo histórico médico e odontológico detalhado, observação de sintomas como desgaste dental anormal, dor facial e cefaleias matinais, além de uma análise crítica dos medicamentos em uso. O tratamento pode envolver uma abordagem multidisciplinar, incluindo fisioterapia, dispositivos oclusais para proteger os dentes, terapia psicológica em casos relacionados ao estresse e, quando apropriado e sob orientação médica, o ajuste de medicação. Entre os dispositivos oclusais utilizados estão as placas estabilizadoras com ou sem expansor e aparelhos monoblocos como Bionator.

Apesar do risco de desgaste dentário e desenvolvimento de problemas articulares/musculares, o bruxismo é uma medida protetiva do organismo. Nos casos de apneia e ronco, por exemplo, a movimentação mandibular proporciona leve aumento do espaço aéreo, melhorando a passagem do ar, ou, nos casos de apneia, fazendo o indivíduo voltar a respirar. Além disso, em pacientes com refluxo gastroesofágico, há uma maior incidência de bruxismo. Sabe-se que nesses casos os movimentos mandibulares mantêm a patência da via aérea, além de promover o aumento de fluxo salivar por movimentação da orofaringe.

Crianças com bruxismo do sono têm maior probabilidade de apresentar outros distúrbios do sono, como roncos, sonambulismo e apneia. Quanto à apneia do sono em crianças, a prevalência é estimada entre 0,7% e 3% das crianças brasileiras. No entanto, esses números são apenas estimativas e a prevalência real pode variar. Além disso, muitos casos de ronco e apneia do sono podem não ser diagnosticados. É importante que pais e profissionais possam diagnosticar corretamente o bruxismo em crianças, prevenir potenciais consequências e identificar possíveis comorbidades.

*Lobbezoo F, Ahlberg J, Raphael KG, Wetselaar P, Glaros AG, Kato T et al. International consensus on the assessment of bruxism: Report of a work in progress. Journal of Oral Rehabilitation. 2018 nov.;45(11):837-8441
** Bulanda, S., Ilczuk-Rypuła, D., Nitecka-Buchta, A., Nowak, Z., Baron, S., & Postek-Stefańska, L. Sleep Bruxism in Children: Etiology, Diagnosis, and Treatment-A Literature Review. International Journal of Environmental Research and Public Health. 2021 Sep.;18(18):9544.

Danilo Hardman Jr., Luciana Arcas, Marina Amaral.
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